- ME RESPEITA QUE SOU DEPRESSIVO !
Não. De maneira nenhuma é algum tipo de
brincadeira. Pelo contrário, é um
momento severo de quem carrega tamanho fardo, especialmente quando se tem
parentes e familiares que não veem o problema da mesma maneira (fazendo com que
o portador se proteja ainda mais), só que agora usando o transtorno como
escudo, inibindo ainda mais qualquer iniciativa de buscar e manter seu tratamento,
por não acreditar mais na cura ou na sua estabilização.
Usar o transtorno como escudo é
uma nova fase para o portador, motivado pelos “ventos contra” que vem recebendo
de muitas pessoas. O depressivo deixa de
procurar ajuda e passa à defender-se dos que não entende sua condição (muitas
vezes provocado por eles próprios), através de críticas depreciativas, que deixaram
“escapar” aos ouvidos do depressivo, quando ainda criança.
A depressão é uma briga interna do inconsciente
(que vive ruminando as duras palavras que registrou) contra o nosso ego, que
busca em nosso acervo algo que possa usar como contra ataque e para conter o
sofrimento resultante dessa batalha.
Imagine o nosso acervo como um armário de
prateleiras onde pegamos o que precisamos num dado momento. Nosso acervo, isto é, o que somos, absorvemos
e aprendemos durante toda nossa vida, está nessa prateleira à disposição do ego
para usar em nosso favor, para conter nosso sofrimento e também a influência do
inconsciente (que insiste em nos fazer lembrar aquelas palavras para nosso
conhecimento para que de alguma forma o anulemos). O problema é que ele nos faz lembrar apenas o
que sentimos, a frustração de ter ouvido de quem jamais esperávamos (...).
Se é a influência do inconsciente
que está predominando, é sinal que está faltando “produto” na prateleira da “loja”
do nosso acervo, que tenha expressividade semelhante à daquelas palavras. Não nos compete tentar descobrir o que
houve. Por certo, alguma forma de
frustração ou decepção de alguém ou com alguma coisa que muito contávamos, que
seria fator condicionante para nossa vida e que de repente frustrou-se. O que
precisamos é de encontrar, buscar, subsídios que o ego (nosso administrador
emocional) possa utilizar em nosso favor (não apenas uma vez), mas sempre que
se fizer necessário.
Assim como nosso computador
necessita (não apenas precisa) de um sistema operacional pra rodar, também nós
precisamos encontrar alguma coisa para que o ego possa usar em nós, com
propósito semelhante. Espero estar
usando de clareza e objetividade em minhas ponderações. Pois bem, vamos raciocinar, o que podemos
usar, que tenha efeito duradouro e que seja ao mesmo tempo determinante ? Princípios, valores, conceitos morais,
éticos, religiosos, Fé... Na verdade um
pouco de cada já temos, mas que está “sufocado” pelo sofrimento e pela dor,
como uma rolha que impede o vinho de sair da garrafa.
O que precisamos fazer é
escolher um dos “programas” e usá-lo como sistema operacional, trabalhando-o,
paralelamente à nossa condição atual (não importa como esteja). Ser persistente como a dor é persistente,
ignorá-la como ela nos ignora. Um “valor”
do qual não abra mão, que não o venda à preço de banana para o sofrimento,
tornando-o menos importante. É uma
guerra de peso, onde o que valer mais, é que irá predominar sobre o emocional, podendo
favorecer progressiva recuperação.
Um conceito que pode ser adotado
para um pontapé inicial é que depressão não é doença, é psicológico (até severo
feito doença), mas psicológico, o que nos permite trabalhá-lo para reverter seu
efeito devastador na vida de uma pessoa.
Um transtorno que se torna severo não por parecer doença, mas pelo
acréscimo de julgamentos refutáveis sobre o problema, advindo de quem deveria
mais ajudar que prejudicar. Um transtorno
que se torna severo por não conseguirmos entender o seu quadro, sua origem e
ação sobre nosso emocional e nossa vida.
Ficamos também perplexos quando uma adversidade inédita cai sobre nós de
forma repentina, sem nos dar chance de absorver, deixando-nos quase igual à
depressivos.
Consciente e inconsciente pode
ser como água e óleo, que embora líquidos, tem características diferentes,
propósitos diferentes, quase opostos.
Nosso ego é nosso aliado, mas sem “armas” pouco pode fazer por nós, deixando-o
tão vulnerável quanto nós, diante de tamanha influência.
Escolha as armas certas que, não
importa o momento seja algo que não abra mão e dê ao “guerreiro” para lutar por
você e ganhar essa batalha.
FAÇA DO EGO, SEU ESCUDO,
DE SEUS VALORES, SUA ESPADA.
Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador/Psicanalista Auto Didata