Projeto VIVA +

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

De acordo com a Organização Mundial de Saúde...

Perto de um milhão de pessoas se matam por ano.


Ao contrário do que muitos acreditam, a ideação suicida não é voluntária, consciente ou por vontade própria.  Somos administrados nada menos do que por dois inconscientes, sendo um racional, enquanto o outro, imaturo e é sobre este que repousa a culpa do suicídio, como ? Ao inconsciente racional lhe cabe o ônus de encontrar para nós, todas as respostas de que precisamos para o nosso dia a dia, para todas as nossas necessidades, de diálogo, trabalho, canto, apresentação, representação, etc.   Conforme já dito em outros artigos aqui mesmo neste blog, o corpo obedece aos dois inconscientes, de forma alternada.

Essas respostas são dadas, desde que já absorvidas e inseridas em nosso banco de dados, isto é, dentro do acervo de tudo que já assimilamos durante toda a nossa vida.   À medida que nos falta informações específicas, a panela das reações começa à ferver, tendendo nós à ficarmos apreensivos, tensos, impacientes, bravos, tristes, com raiva, desesperado, angustiado, enfim, a reação que mais se aplica à intensidade do momento em questão.

Estas reações são provenientes do inconsciente imaturo (Id), que possui aproximadamente, idade semelhante à de uma criança de 3 anos de idade, com todas as características que lhe são peculiar, entre elas, não temer ou pressentir perigo nem medir consequências.   As respostas que por ventura este inconsciente prover, certamente haverão de nos causar constrangimento de alguma forma, quando não, reações mais severas.

Ambos os inconscientes, Ego (o racional) e o Id, trabalham de forma alternada, ou seja, sempre o Ego terá a prioridade de nos ajudar porém, se este falhar, o Id automaticamente assumirá a função de nos ajudar, sem nosso consentimento e sem os quesitos de racionalidade, valendo-se do que tiver à disposição e que atendam à demanda de intensidade do momento, bem como que tenha a eficácia apropriada à mesma demanda.

Imaginemos uma estante com uma infinidade de prateleiras, onde nela se encontram os artifícios que estão à disposição do Id, sempre que o Ego não conseguir nos ajudar, basicamente por não termos tido a iniciativa de absorver conhecimentos e valores, os quais gostaríamos de ter como respostas em situações específicas e, em quantidade aritmética, para que o ego possa, de imediato, encontrar o que procura.

Na estante que imaginamos, as prateleiras mais altas reservam os recursos mais críticos e não saudáveis, caso o momento exija tal resposta.  Em suma (de cima para baixo) são recursos como ideação suicida, drogas mais pesadas, que fazem efeito imediato, como crack e cocaína; álcool, etc.  Se um desses recursos for escolhido pelo Id, ele simplesmente fará com que o corpo aceite ou procure, dependendo apenas que algum fator alheio o impeça.   Resta ainda esta esperança.

Vale lembrar que se uma pessoa “foi sorteada” com a escolha do suicídio, ela se tornará criteriosamente seleta no que deseja ouvir, caso alguém tente persuadi-la do inverso.  Será como tentar adivinhar uma senha de internet, porque não se sabe a razão verdadeira de sua intenção, promovida pelo inconsciente.  Enquanto o Id tenta impôr sua “escolha”, o Ego desesperadamente tentará fazer o inverso, fazendo-a com que chame a atenção de alguém, para tentar contê-la.  O suicida acredita na causa que imagina ser.  Raras vezes coincide.

Somos pretensiosos em achar que podemos controlar uma situação, mas nada fazemos de fato para isso, apenas entregamos nossa vida ao acaso, esperando que nosso corpo nos obedeça quando desejamos.   Para fazer o carro mover-se, de nada adianta mandá-lo andar, se não pusermos combustível, bateria, calibrarmos os pneus e fazer uma série de coisas, para termos o carro sempre que precisarmos.  Da mesma forma nosso inconsciente racional, pois será ele que promoverá tudo que precisamos e ainda controlará as ações do Id, desde que tenha como fazê-lo, desde que inserimos o necessário para fazer o seu trabalho.   Não podemos mandar um pedreiro trabalhar se não lhe dermos tijolos, cimento, areia e ferramentas, não é verdade ?

Portanto, não se brinca nem se julga uma pessoa que está manifestando desejos suicida, pois que ela começa à perder de fato, o pouco de controle que tinha de si próprio, que é a mesma falta de controle de uma pessoa que à julga (ato também manifestado pelo Id) quando feito de forma imprudente e negligente, pois quando o julgamento é prudente, ele advém do Ego.

 Já disse em meu Blog que, se quisermos entender o mundo que nos cerca e as pessoas, devemos primeiro entender à nós mesmos.   Não sofremos por ter algum tipo de problema, sofremos por não entender o problema, sua dinâmica, origem e qual nossa responsabilidade e participação nele.  

Se soubermos compreender isso, teremos vida de estável pra feliz. Acredite.   A estatística (do título) acima só acontece por culpa de nós mesmos, por culpa dos que não nos preparam para a vida, dos que não nos ensinaram à pensar.   Quando crianças, somos reféns dos nossos pais, dependendo deles uma série de informações e conhecimentos, sob o pretexto de pelo menos, sofremos menos, para vivermos melhor.  Mas nem sempre é o que acontece e os filhos acabam sofrendo, quando pequenos, jovens, adolescentes e adultos, porque lhes faltou o essencial.  

O suicídio é o recurso que está sempre disponível e cada vez mais utilizado. Pense nisso.


Professor Amadeu Epifânio
Pesquisador / Psicanalista


5 comentários:

  1. Não importa o momento pelo qual passamos, sempre desejamos partilhá-lo com alguém, mesmo que nem o conheçamos, mas se pelo menos nos ouvir já será uma dádiva. Em momentos como ideação suicida, mesmo nessa hora, desejamos (ou melhor) necessitamos falar com alguém. Acredite ou não mas, quando fazemos questão que outros saibam do que pretendemos fazer, não procuramos testemunhas nem platéia, pelo contrário, estamos em busca de alguém que nos ouça, que nos conforte e que nos tire daquela condição "crítica", porque estamos fragilizados e cansados do sofrimento que nos levou até ali, para abandoná-lo sozinho.
    Como se trata de uma chance que damos à nós mesmos, de atrair pessoas de bem para nos ouvir e, se essas pessoas não aparecem, que busquemos então uma oportunidade futura ou de outra forma, para encontrá-los. Porque essas pessoas existem, apenas não tiveram ainda, a chance de nos conhecer e dividir experiências. Quando começar à achar que esses tipos de pensamentos começam à rondar a cabeça, procure alguém (não para conversar) mas para te ouvir, que empreste apenas os ouvidos, para aliviar a tensão que te leva àquele pensamento. Procure se esvaziar da dor e aquele pensamento sumirá.

    Se não achar ninguém, não importa, fale consigo mesmo, repita infinitas vezes a razão de estar tendo o pensamento suicida, até que se tornem banalizados de tanto repetir e percam sua força. De repente, repetindo várias vezes a razão, se descobre também, uma forma de resolver. De qualquer forma o fantasma da ideação terá sumido, talvez para sempre. E é isso que queremos não é mesmo ?

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  2. Não sei por que vim parar aqui. Mas quero dizer que se um indivíduo não está com nenhuma doença psiquiátrica. Se ele quiser de fato morrer, se ele após muito pensar chegar a conclusão de que não ama mesmo a "vida", não consegue do fundo do seu coração aceitar essa forma de "vida", ele tem sim o direito de escolher, a "vida" é dele. Ontem um rapaz de 24 anos estava dizendo que se não conseguisse emprego ele não tem outra alternativa a não ser morrer, pois roubar ele não vai, pedir ele não vai. Ele disse que era uma questão de escolha entre o "mais ruim" e o "menos ruim". Os indígenas ao se verem escravizados preferiram morrer. Questão de escolha pessoal, sempre é possível escolher. Que mal há em não se seguir o que foi estabelecido pelo sistema?

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  3. O suicídio não é voluntário, ele é consequente da falta de melhor formação de vida. Se não conseguimos fazer as coisas de um jeito, tentamos de outro e se não der vou morrer ? Acabou as opções ? Você apenas não preparou sua cabeça para ter mais opções para enfrentar os problemas. Como relatei no artigo, você dá ao seu pedreiro certa quantidade de material pra levantar à sua parede e quando acaba porque não tem mais, você se mata ?
    Conhecimento são tijolos da alma, que podem ser de mais ou menor qualidade, que certamente enriquecerão ou empobrecerão toda a obra. Que conhecimentos tem procurado absorver ? Se o teu alicerce está "fraco", deve fazer por reforçá-lo, ao invés de buscar a saída mais conveniente para o fracasso. Pensa nisso.

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    1. Obrigada por ter respondido. Mas, se nenhuma opção agradar, se após ter conhecido a psicanálise de Freud, se continuar vendo o mundo sob o aspecto negativo mesmo,( considerando-se o "determinismo psíquico criado na infância) considerando-se que tudo pode ser relativizado, ainda pode-se pensar que em alguns casos é uma questão de escolha mesmo. Não todos, é claro. Fracasso está na vida de todos indivíduos, se a vitória fosse sempre constante não teria graça nenhuma. Não é possível amar o que insistem em chamar de "vida" na sociedade atual. Diga por que amar um sistema onde vc não é livre para ir e vir sem medo? A qualquer momento um bandido pode acabar com a vida de alguém para levar um simples celular. Penso que diante de tanto mal já se poderia denominar masoquismo o "amor a vida". Linda é a natureza, os animais, plantas, a água, a terra. Lindo é o som, as artes. E morrer é perfeitamente natural e se for de escolha do indivíduo, que mal há nisso? Quero dizer, desde que não esteja presente nenhuma doença psiquiátrica.

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  4. Sem dúvida existe a questão da escolha, que está inserido no livre arbítrio, cedido e presenteado por Deus. Mas o livre arbítrio nos permite escolher sempre, a direção, não o caminho. O tipo de caminho que encontraremos será respectivo e proporcional à direção escolhida. Mas o lado bom ou positivo disso é que podemos mudar e escolher a direção, sempre que quisermos, mas nem sempre possível ou permitido. Se um jovem torna-se compulsivo em drogas, ele levará certo tempo para mudar a escolha da direção que tomou, pois além da compulsão, enfrentará a dureza do preconceito, muitos vezes da própria família (mesmo depois de desintoxicado). Nessa questão, ele está inserido no caminho da escolha que fez e, dentro desta realidade dura, a ideação suicida acaba sendo uma das futuras opções que, dependendo de cada caso, poderá vir à ser fornecido (não escolhido) pelo inconsciente imaturo. Resumindo, o suicídio acaba sendo resultado do caminho da direção que escolhemos. Causa e efeito. Ninguém faz nada se não em razão de algo que o motive. Nada é gratuito.

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